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O território
no século XVIII

Alguns dos eventos históricos durante o reinado de Dom João V
O TERRITÓRIO NO SÉCULO XVIII

O TERRITÓRIO NO SÉCULO XVIII

1730

Notícia de 45 mil trabalhadores em Mafra, empregados na construção do Real Edifício, instalados, na sua maioria, num local conhecido como Ilha da Madeira.

Notícia de 45 mil trabalhadores em Mafra, empregados na construção do Real Edifício, instalados, na sua maioria, num local conhecido como Ilha da Madeira.

1730

A edificação do Palácio-Convento levou à concentração na Vila de Mafra de um grande número de operários (pedreiros, canteiros, alveneiros, carpinteiros, ferreiros, entre outros), provenientes de todo o país. Ascendendo a cerca de 45000 operários que no ano de 1731 já tinham diminuído para 15470 trabalhadores na Real Obra, entre os quais 6124 soldados, instalaram-se, na sua maioria, a nordeste, onde foram construídos diversos e vastos abarracamentos de madeira do norte de Portugal para oficinas e alojamento, tendo aí nascido uma verdadeira povoação que ficou conhecida como Ilha da Madeira (também devido ao grande amontoado de madeiras destinadas à construção). Nessa ilha ergueram-se telheiros para estrebarias e cavalariças, casas de alvenaria para acomodação do pessoal especializado e oficiais, e uma ermida de madeira para o serviço divino. No recinto das habitações foram abertas inúmeras casas de pasto para serviço dos operários, que se alimentavam à custa do seu salário, vindo dos pinhais de Leiria e dos termos de Lisboa e Torres Vedras a lenha consumida para usos domésticos.

Imagem – Construção do Convento de Mafra (Roque Gameiro, 1917)

Construção de um canal denominado Esteiro da Princesa

Construção de um canal denominado Esteiro da Princesa

1730

O Rio Trancão era uma via fluvial fundamental para aqueles que se deslocavam de Lisboa até à zona norte do termo, nomeadamente à região da várzea de Loures ou do rio Trancão. Durante a real obra de Mafra o rio foi usado como meio de transporte de matérias-primas, materiais de construção e até de obras de arte, vindos de Lisboa. Fontes documentais de meados do século XVIII (testemunho do pároco de Santo Antão do Tojal, Félix Dantas Barbosa, em 1760 nas Memórias Paroquias), mencionam o transporte dos sinos para o carrilhão do Convento de Mafra, desde Lisboa até Santo Antão do Tojal, abrindo-se então, para o efeito – em 1730 – um canal, denominado Esteiro da Princesa. Também as esculturas importadas de Itália para Mafra e para o palácio da Mitra no Tojal, vieram de barco, desde a Ribeira das Naus, em Lisboa. As embarcações possuíam um fundo chato apropriado aquele tipo de navegação, que dependia da maré.

(imagem – Arquivo Municipal de Lisboa)

Sagração de um sino da Igreja de Santo Antão

24/07/1730

D. Tomás de Almeida trouxe uma imagem de Nossa senhora da Conceição que mandou colocar na tribuna do altar-mor da Igreja de Santo Antão do Tojal. Também nessa mesma visita sagrou um sino, o de maior calibre da igreja.

Visita do Rei D. João V e do seu irmão, Infante D. Francisco ao palácio da Mitra de Santo Antão do Tojal

08/10/1730

O Rei D. João V e o seu irmão, o Infante D. Francisco, vieram a Santo Antão do Tojal, ao palácio da Mitra, em dois barcos diferentes navegando Tejo acima e depois pelo rio Trancão até Santo Antão do Tojal, para assistir à cerimónia de sagração dos sinos destinados a Mafra. Para a cerimónia da bênção dos sinos foi construída uma grande barraca junto ao cemitério da igreja para a parte sul, com grossas vigas onde se suspendiam os sinos, ricamente ornamentada no seu interior e com um chão forrado por alcatifas. Neste dia D. Tomás de Almeida, o 1º Patriarca de Lisboa, a sagrou primeiro 4 sinos e depois outros 20, sem a presença de D. João V que tinha avisado não poder estar presente por moléstia. No entanto, durante a cerimónia D. João V e o Infante D. Francisco apareceram vindos por barco. Após a cerimónia acompanharam D. Tomás à Igreja onde fizeram oração. Seguidamente foram todos ao Palácio, onde SM e Alteza deram beija-mão à família de D. Tomás e, despedindo-se deste, se retiraram para a corte.

Visita de D. João V ao palácio da Mitra de Santo Antão do Tojal para outra cerimónia de sagração dos sinos destinados à Real Obra de Mafra.

Visita de D. João V ao palácio da Mitra de Santo Antão do Tojal para outra cerimónia de sagração dos sinos destinados à Real Obra de Mafra.

16/10/1730

Seguindo a etiqueta da época o rei D. João V jantou na casa da tribuna, apenas com a assistência do Duque de Cadaval, D. Jaime Pereira de Melo, estribeiro-mor. O Duque jantou posteriormente na sala antecedente, junto ao confessor do rei, o Padre Martinho de Barros (ou Basto) da Congregação do Oratório. Noutra sala do palácio da mitra de Santo Antão do Tojal jantaram outras figuras que acompanhavam o rei nesta deslocação, o Prior de S. Nicolau, João Antunes Monteiro, o referido Mestre-Capela e o Guarda-roupa de SM, com assistência dos Guarda-Roupas e Porteiros de D. Tomás. Em outra sala jantaram o cirurgião d’el Rei, Manuel Vieira, os reposteiros e mais oficiais da casa real, a que assistiram os moços de pé de D. Tomás e, posteriormente jantou D. Tomás com os seus parentes que se encontravam em Santo Antão. Sabendo o rei pelo Mestre Capela que familiares de D. Tomás de Almeida sabiam cantar várias cantorias com chusma e galanteria, os mesmos foram chamados à presença do rei para repetirem os cânticos. Cerca das três da tarde foi o rei informado que por causa da maré as embarcações que transportavam os sinos destinados a Mafra, que eram muitos e de grande calibre, só chegariam a Santo Antão do Tojal perto da meia-noite. Para o seu transporte tiveram que se ocupar os oficiais da maestrança da Ribeira das Naus, mas também os soldados que estavam em Santo Antão do Tojal por ordem do rei e ainda os moços de pé de D. Tomás. Nessa noite o tempo esteve particularmente rigoroso, muito chuvoso com trovões e relâmpagos, o que não anulou a cerimónia da bênção dos sinos, que se realizou numa barraca montada para o feito, tendo terminado pelas duas ou três horas da madrugada.

Sagração da Basílica de Mafra, erigida entre 1717 e 1735, cerimónia de uma magnificiência incomparável, contando com a presença do Primeiro Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida. Nessa ocasião ouviram-se tocar os seis órgaos portativos e os dois carrilhões, num total de 120 sinos.

22/10/1730

Erigida entre 1717 e 1735, com a capacidade para acolher 80 religiosos, foi sagrada em 22 de outubro de 1730, no dia do 41º aniversário de D. João V. Esta cerimónia é descrita nas fontes como de uma magnificência incomparável, chegando a ser considerada a mais notável do mundo. Além da Família Real esteve presente o Primeiro Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, entre muitas outras individualidades da Igreja, Estado e Câmara de Mafra, onde se ouviram tocar seis órgãos portativos e os sinos das torres.

1731

Assinatura do decreto que autorizou o inicio da construção do Aqueduto das Águas Livres por Dom João V.

Assinatura do decreto que autorizou o inicio da construção do Aqueduto das Águas Livres por Dom João V.

12/05/1731

Considerando que os fundos recolhidos pelo imposto já permitiam o adiantamento dos trabalhos, Dom João V impulsiona a obra e nomeia o arquiteto italiano Cannevari como diretor dos trabalhos. A sua nomeação não pode ter deixado senão surpresos alguns dos técnicos que participaram nos trabalhos preparatórios da obra e sobretudo Manuel da Maia, dado que o arquiteto italiano sempre se tinha mostrado muito descrente da possibilidade das nascentes próximas abastecerem Lisboa. No conjunto da documentação elaborada, as Considerações de Manuel da Maia foram o mais completo plano de abastecimento que surgiu ao longo do projeto, fazendo do autor um potencial concorrente ao cargo ocupado pelo italiano. Em breve as opiniões dos dois técnicos entraram em contradição, o ambiente era tudo menos consensual levando ao isolamento do arquiteto italiano face aos portugueses, que agastado pediu autorização para regressar a Itália. Afastado Cannevari, surge com naturalidade a nomeação formal de três engenheiros, entre os quais, Manuel da Maia, para a direção das obras. Mas as posições individuais voltaram a extremar-se e o rei é forçado a escolher um projeto com uma direção clara. Em 1736 é nomeado o arquiteto Custódio Vieira para o cargo de diretor, cujo período de vigência permitirá o desenvolvimento da obra pela primeira vez a um bom ritmo (em menos de dois anos Lisboa viu concluído o troço principal do Aqueduto) só abrandado pela construção da monumental travessia do vale de Alcântara que ocupou a parte final da vida de Custodio Vieira. Logo após a sua morte, em 1744 surgem as primeiras vozes discordantes da opção vultosa e arriscada que o arquiteto tinha escolhido para a transposição da Ribeira de Alcântara, e durante um breve período volta-se à situação caótica do início da obra, até se avançar com o nome de Carlos Mardel que assume um decisivo poder na condução técnica do projeto. É seu o risco da galeria de arcos junto ao reservatório das Amoreiras, incluindo o arco triunfal, tal como o grande reservatório das Amoreiras, um magnifico Templo de Agua como já foi chamado.

(imagem – Arquivo Municipal de Lisboa)

1733

Estreia-se no Paço da Ribeira a primeira ópera portuguesa «La pacienza di Socrate» o drama cómico de autoria de Francisco António de Almeida

Estreia-se no Paço da Ribeira a primeira ópera portuguesa «La pacienza di Socrate» o drama cómico de autoria de Francisco António de Almeida

Carnaval de 1733

Francisco António de Almeida, compositor português, foi um dos primeiros jovens bolseiros enviados a Roma entre 1717 e 1720 a expensas da corte de D. João V, para aí aperfeiçoar e ampliar o estudo na arte da música italiana. Por lá se demorou, recebeu lições de Alessandro Scarlatti, pai de Domenico Scarlatti, cujo estilo assimilou e professou alcançando lisonjeira notoriedade. De regresso a Portugal em 1726, destacou-se como compositor de opera palaciana com libreto italiano. Após a estreia em 1733, repete-se no ano seguinte no Paço da Ribeira La pacienza di Socrate (sinal de que muito tinha agradado) e em 1735 estreia-se a ópera La Finta Pazza. No carnaval de 1739, novamente no Paço da Ribeira, estreia-se a ópera cómica em 3 atos La Spinalba ovvero Il Vecchio Matto (A Spinalba ou o velho louco) uma verdadeira obra-prima. A ultima obra do compositor de que há noticia intitula-se L’Ippolito, uma serenata a seis vozes cantada no Paço da Ribeira em 1752.

1734

Visita de D. João V ao palácio da Mitra de Santo Antão do Tojal para assistir a uma missa cantada.

janeiro de 1734

D. João V veio assistir a uma missa cantada na nova tribuna que D. Tomás de Almeida da igreja de Santo Antão do Tojal, obra de reformulação patrocinada pelo patriarca. Após a cerimónia religiosa D. Tomás ofereceu um jantar ao rei e à sua família, bem como a todos os eclesiásticos da patriarcal.

Segunda fase de aquisição de terrenos para ampliação do Convento e sua cerca, em virtude da decisão régia de 1728. A população da freguesia de Santo André de Mafra segundo o Censo de 1734 possui 355 fogos, 1597 moradores.

1734

A segunda fase de avaliação do conjunto de terras que foram compradas para ampliação do Convento e da respetiva cerca conventual, causou prejuízo aos proprietários pelo facto de não as terem cultivado durante cerca de seis anos (1728-1734). O total das despesas com a aquisição dos terrenos e dos danos infligidos perfez o valor de 14.738$150 réis. (Cláudio da Conceição, Gabinete Histórico, Tomo VIII, Cap. VII, p. 82, 1820)