Mafra
(…). Estava Baltasar há pouco tempo nesta sua nova vida, quando houve notícia de que era preciso ir a Pêro Pinheiro buscar uma pedra muito grande que lá estava, destinada à varanda que ficará sobre o pórtico da igreja tão excessiva a tal pedra que foram calculadas em duzentas as juntas de bois necessárias para trazê-la, e muitos os homens que tinham de ir também para as ajudas. (…).
(…). Amanhã, antes de nascer o sol, recomeçará a pedra a sua viagem, em Cheleiros ficou um homem para enterrar, fica também a carne de dois bois para comer. (…).
(…). Entre Pêro Pinheiro e Mafra gastaram oito dias completos. (…).
Referida no reinado de D. Afonso II (século XIII), a igreja foi objeto de múltiplas campanhas de obras, a mais antiga na transição para o século XIV, onde se enquadra o portal principal. A incorporação, nas suas paredes, de materiais romanos e paleocristãos sugere a existência de uma villa romana na zona. A principal transformação ocorreu na época manuelina, sob a égide família Ataíde, responsáveis pela construção de uma nova capela-mor, onde se exibe a esfera armilar, emblema de D. Manuel I e as armas dos donatários. Foi classificada Imóvel de Interesse Público, em 1934. O cruzeiro do adro transferido no século XX, da estrada de acesso ao Carvalhal para o adro da igreja matriz, tem a particularidade de possuir fuste torso.
Coração da antiga vila, este largo concentrava o essencial dos edifícios públicos da extinta sede de concelho. Os Paços do Concelho dominavam o setor poente, virados à praça e eram constituídos por dois andares. A construção das Casas da Câmara (sala de vereações/audiências e cadeia) obteve autorização régia em 1831, deixando o senado municipal de se reunir em casa particular e de transportar os presos para a cadeia da Vila de Mafra. No centro do largo erguia-se o pelourinho, desmantelado no século XIX e exibindo atualmente apenas o fuste como elemento original, classificado como Imóvel de Interesse Público, em 1933.
Construído na primeira metade do século XVI, insere-se no programa arquitetónico e decorativo da vila realizado durante o governo da família Ataíde. Ergue-se num pequeno largo em declive acentuado, o que determinou a construção de uma plataforma desnivelada. A base é oitavada e a cruz é amplamente decorada com motivos vegetalistas, sendo os braços ligados por círculo de pedra trabalhado.
O chafariz oitocentista ilustra uma época em que os habitantes tiveram por donatário a Casa do Infantado, tendo transitado para a mesma por falta de descendência da família Ataíde. Construído em 1833, conforme revela a inscrição comemorativa no espaldar, associada ao brasão real, recebeu um primeiro restauro em 1895.