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Miradouro do
Rio Trancão em Sacavém

Loures

O mestre levantara uma pequena vela triangular, o vento ajudava a maré, e ambos o barco. Os remadores, frescos da noite dormida e da aguardente bebida, remavam certo e sem pressa. Quando dobraram a ponta de terra, a barca foi apanhada na força da corrente e da vazante, pareceria uma viagem para ao paraíso, com o sol relampejando na superfície da água e duas famílias de toninhas, qual uma, qual outra, cruzando à frente da barca, assente sobre a água, ainda longe, Lisboa derramava-se para fora das muralhas. (…) Havia uma confusão de muletas e caravelões que descarregavam peixe (…)

Memorial do Convento, Editorial Caminho da 32ª edição.

Miradouro do Rio Trancão

Sacavém, na confluência do Tejo com o Trancão, destaca-se pela fertilidade das suas terras, pela exploração das salinas, e pelo transporte fluvial dos vários produtos oriundos do interior do Termo para Lisboa. Estas condições permitiram o surgimento de um importante porto fluvial com cais de atracagem. Segundo as Memórias Paroquiais no século XVIII, o povoado era composto por dois núcleos urbanos: Sacavém de Cima e Sacavém de Baixo e contava com trezentos e cinquenta fogos. Em 1759, em Sacavém de Baixo, existiam três cais: o de Nossa Senhora, o da Barca e o do Peixe, o que atesta o dinamismo económico da localidade. No rio circulavam inúmeras embarcações.

Igreja de Nossa Senhora da Purificação

Fundada, em 1596, por Miguel de Moura, então governador do Reino em nome de Filipe II de Espanha, como igreja conventual do Convento de Nossa Senhora da Conceição e dos Mártires de Sacavém, destinada aos ofícios das freiras clarissas. Este templo torna-se igreja paroquial de Sacavém em 1863, sendo a invocação original substituída por Nossa Senhora da Purificação. Trata-se de uma construção maneirista, de traça sóbria, com entrada lateral e uma torre sineira onde se pode observar um nicho com uma imagem de Nossa Senhora. No interior, destacam-se os azulejos pintados à mão, com cenas do culto mariano, produção da Fábrica da Loiça de Sacavém do século XX.

Museu de Cerâmica de Sacavém

O Museu de Cerâmica de Sacavém foi construído em torno do forno18. Tem por missão o estudo da história e da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém e do património industrial do concelho de Loures. No acervo destacam-se dois núcleos: o das peças fabricadas na Fábrica e os materiais e utensílios usados na fabricação e alguma maquinaria. O museu tem ainda à sua guarda, no centro de documentação Manuel Joaquim Afonso, um valioso espólio bibliográfico, além de arquivos de outras unidades industriais do concelho nomeadamente da Fabrica da Abelheira, alguns arquivos pessoais de artistas e documentos gráficos.

Forte de Sacavém

Situado na margem direita do rio Trancão, junto à foz, o Forte de Sacavém, ou Reduto do Monte Cintra, é uma construção militar oitocentista, de planta pentagonal irregular. Integrava o núcleo do chamado Campo Entrincheirado de Lisboa, a sua construção iniciou-se em 1872, sob a direção do general marquês de Sá da Bandeira, com o objetivo de defender a capital. O Forte de Sacavém guarda atualmente dois importantes arquivos de património cultural e de arquitetura do país: o do Sistema de Informação para o Património Arquitetónico e o do Arquivo de Documentação Fotográfica.

Santuário de Nossa Senhora da Saúde

Data de 1599 a primeira referência à invocação de Nossa Senhora da Saúde, ano, em que segundo a tradição, uma grande peste alastrou em Sacavém, tendo sido encontrada, junto à ermida, inicialmente dedicada a Santo André uma imagem da Virgem com o menino quando se abriu uma vala de enterramentos. Em 1652, a construção original foi demolida e refeita a expensas dos fiéis e de novo após o terramoto. No interior, de uma só nave as paredes acham-se revestidas de azulejos policromos de branco e verde, dispostos em losangos; o altar-mor, em talha dourada de gosto barroco, alberga uma imagem tardo-medieval da padroeira.

Caminho de Santiago

O itinerário conhecido como o Caminho de Santiago remonta ao século IX e insere-se num conjunto de itinerários religiosos que conduzem os crentes a sítios especiais, os ditos lugares santos. Este Caminho de valor cultural e patrimonial inegável, materializa-se numa rede de percursos europeus que converge para a catedral de Santiago, na Galiza, onde segundo a tradição está o túmulo do Apóstolo. Em Portugal o chamado “Caminho Português” inicia um dos seus troços na Catedral de Lisboa, desce pelo bairro de Alfama, Campo de Santa Clara, Santa Apolónia, Xabregas, até atingir a zona ribeirinha. O percurso continua junto ao Tejo até chegar à foz do Trancão. Em Sacavém atravessa o rio e percorre a margem direita em direção à várzea, segue pela margem direita da ribeira de Alpriate até Vila Franca de Xira. Este itinerário está devidamente sinalizado, nalguns troços coincide com os Caminhos de Fátima.

O Rio Trancão

O rio Trancão junto a Sacavém era muito profundo como testemunha Manuel Severim de Faria «… He este esteiro quando dezemboca no Tejo de gram fundo; tanto que nelle entrão navios de muitas tonelladas, (…) a larguesa naõ he muita e se passa este estreito por hua barca (…) O Rio se vai estreitando polla terra dentro (…), e de hua parte e de outra da ribeira esta cerquada de quintas fresquíssimas, e de muitas marinhas (…)». A travessia do rio Trancão era assegurada por uma barca, por não existir uma ponte, e ao longo das suas margens, várzea adentro, as salinas aproveitavam a sua água salobra. O humanista português Francisco de Holanda, na obra Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa menciona a ruina de uma ponte romana. Há muito que a travessia do rio era feita através de uma barca. A Casa de Bragança arrendava anualmente a barqueiros do Trancão a portagem desta travessia. As constantes queixas sobre o elevado preço das taxas levaram à emissão, em 1628, de um regimento para estabelecer o preço justo para a passagem do rio.