Loures
(…) os fumos diurnos e noturnos dos fornos de tijolo e cal que entre Mafra e Cascais são centenas, os barcos que outros tijolos trazem do Algarve e de entre -Douro-e-Minho e os vão descarregar, Tejo adentro, por um canal aberto a braço, ao cais de Santo António do Tojal, os carros que por Monte Achique e Pinheiro de Loures trazem estas e outras matérias ao convento de sua majestade (…) falamos de Baltasar, é boieiro de uma das juntas que vão puxando S. João de Deus, único santo português da confraria desembarcado da Itália em Santo Antão do Tojal e que vai, como quase tudo de que se fala nesta história, a caminho de Mafra.
Classificado como Monumento de Interesse Público em 2012, este conjunto monumental barroco é composto pelo Palácio dos Arcebispos e jardim, Igreja Matriz, Fonte-palácio e Aqueduto. Configura uma praça de grande aparato cenográfico cuja obra de construção e remodelação do séc. XVIII foi da autoria do arquiteto italiano António Canevari, que se encontrava na corte a convite de D. João V para a construção do Aqueduto das Àguas Livres. A edificação desta praça monumental adveio da vontade do primeiro Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, de transformar a propriedade rural num local aparatoso que simbolizasse o seu elevado estatuto social. O palácio, residência de verão do Patriarca recebeu por várias vezes o rei a a corte, tendo sido aqui que se realizaram as famosas cerimónias da Bênção dos Sinos.
Exemplo de arquitetura residencial e religiosa barroca. Palácio eclesiástico com igreja adossada e ligada por tribuna, de planta em U, composta por três corpos, um central e dois laterais, com dois pisos e escada interior de acesso ao andar nobre, lançada na sua ala central. O portão armoriado impõem-se na praça e permite o acesso ao pátio interior. No interior, destaca-se a escadaria de aparato com três figuras de convite a azul colbalto e amarelo antimónio e representações de animais exóticos. No piso nobre, as várias salas apresentam belos painéis do século XVIII, de grande qualidade pictórica e diversidade temática.
A fonte, projetada por Canevari, constitui-se como peça arquitetónica central da praça e centraliza uma forte carga visual e cenográfica, acentuada pela água, que cai dos mascarões. A fonte em cantaria, no centro da fachada do palácio, é antecedida por escadaria e composta por um tanque de perfil curvilíneo, e é rematada por frontão com as armas de D. Tomás de Almeida, ladeado por fogaréus.
Datam do século XIII as primeiras referências à igreja, reconstruída no século XVI e posteriormente reedificada por D. Tomás de Almeida. Destaque para a galilé com elegantes painéis de azulejos. Na fachada principal realçamos as belas estátuas em mármore italiano, imagens de Nossa Senhora da Conceição, São João de Deus e rainha Santa Isabel. Na sua proximidade foi montada uma grande barraca ricamente decorada em outubro de 1730 para receber os sinos com destino à Real Obra de Mafra após as cerimónias da bênção. No interior destaque para a sala de inspiração renascentista conhecida como Sala da Bênção, local onde o Patriarca assistia ao ofício religioso e simultaneamente permitia o acesso à praça através de uma varanda.
O jardim de planta retangular de um só plano, composto por várias alamedas, sendo a principal delimitada por muretes ornamentados por painéis de azulejos com albarradas. Ainda do jardim barroco subsistem dois tanques simétricos decorados com elegantes grinaldas, parte do sistema hidráulico, os pombais que ostentam grinaldas e medalhões azulejares de inspiração clássica, e dois bancos de espaldar alto revestidos com painéis de azulejos, ao fundo de eixos perspéticos.
Construído em 1728, pelo arquiteto italiano António Canevari. Desenvolve-se ao longo de 2km, em arcaria de volta perfeita, assente em grossos pilares, que se vão tornando sucessivamente mais estreitos ao aproximar-se do povoado. Consta de um troço subterrâneo próximo da sua nascente em Pintéus. A obra tinha como objetivo o abastecimento de água à fonte monumental e ao palácio, bem como à povoação.
Construído na mesma época por António Canevari, é conhecido como Chafariz dos Arcos. Trata-se de um pequeno elemento comparado com a restante obra. Compõe-se de um pequeno tanque com um nicho onde está inserido um mascarão, do qual sai água. Imediatamente por cima está uma inscrição em latim, solicitando oração em troca da água fornecida, sobrepujada por um baixo relevo representando uma cena do tormento das almas no purgatório.
Conjunto de três Passos da Via Sacra, de grandes dimensões e construídos em cantaria, dispersos pela povoação. Destacamos o PASSO número três, situado na proximidade do lavadouro público, que apresenta um grande espaldar de remate contracurvado, em alvenaria de pedra, tendo ao centro um vão renascentista de cantarias em mármore, encimado por entablamento e cornija triangular muito saliente. Sobre o vértice da cornija, uma cruz latina em mármore.
Casa abastada, de planta poligonal irregular, de volume único, rasgado regularmente por janelas retilíneas. Na fachada Oeste, possui porta de decoração manuelina, de arestas biseladas e remate em carena. Foi aqui que nasceu este ilustre botânico a 25 de novembro de 1744. Destacou-se em várias áreas do conhecimento, como as letras, e a medicina, além da botânica, tendo sido igualmente eleito às Cortes Constituintes de 1820.
Cruzeiro composto por plinto e cruz latina, assente em plataforma quadrada, de três níveis, situado num largo próximo da antiga capela do Espírito Santo. A sua construção data de 1555, conforme a inscrição no pedestal: Esta cruz mandou fazer bastiam luis per sua devaçam era 1555. Sebastião Luis, foi feitor na cidade portuguesa de Malaca e fundador da capela de Santo António, no interior da Matriz de Santo Antão do Tojal, onde foi sepultado.
Arquitetura religiosa, quinhentista. Capela de planta retangular composta por nave e capela-mor, esta última possuindo teto em abóbada de berço, iluminada uniformemente por janelas rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal em empena enquadrada por cunhais de cantaria, rasgada por portal renascentista, rematado por friso e frontão triangular. Atualmente o edifício está devoluto.
O Paul das Caniceiras, localizado na Várzea de Loures, na freguesia de Santo Antão do Tojal, está classificado enquanto zona húmida. O seu ecossistema é rico, porém sensível, vulnerável e extremamente ameaçado. Zona de terrenos alagadiços com cerca de 14 hectares, é um importante refúgio – de nidificação e alimentação – para diversas espécies de aves aquáticas, algumas em perigo de extinção, como para outra fauna, com destaque para a presença da “Boga-de-Lisboa” (Chondrostoma olisiponensis).
Palácio mandado construir por José Vaz de Carvalho em meados do século XVIII. Sobre a fachada rebocada de cor de rosa encontra-se centrado sobre a porta um frontão barroco com as armas da família e as dos Azevedo Coutinho. No interior destacava-se a casa de jantar, aposento histórico especialmente construído por José Vaz de Carvalho para receber o soberano, D. João V, a caminho de Mafra para visitar a Real Obra. A capela da casa não se encontra integrada no palácio, foi construída a uma certa distância e ainda hoje serve a população. Foi nesta casa que Maria Amália Vaz de Carvalho passou grande parte da sua mocidade e foi aqui, com certeza que despertou a sua vocação de escritora.
A Quinta das Carrafouchas é um dos muitos exemplos das quintas de produção e recreio barrocas construídas no século XVIII na região envolvente de Lisboa. Estes lugares de privilégio permitiam aos seus proprietários retirarem-se para um ambiente mais bucólico e de certo isolamento, sem se afastarem demasiado da grande cidade e da corte. O edifício nobre de estilo barroco, apresenta uma construção frontal, ritmada, com grande sentido de harmonia, desenvolvendo-se no sentido do cumprimento e está virada para a via pública. Possui três elementos distintos, constituídos pela capela, residência e o muro do pátio, fechado por um portal armoriado. No prolongamento da casa encontramos a capela, que se distingue do conjunto por um pequeno campanário, o interior é de uma só nave e as paredes estão revestidas de azulejos do século XVIII. A capela é dedicada a Nossa Senhora do Monte do Carmo. Também no pátio destacam-se os azulejos setecentistas com cenas de caça.
No palácio, residência de verão, recebeu D. Tomás de Almeida várias vezes as visitas do Rei quando este se deslocava a Mafra para acompanhar a Real Obra. Para assegurar a navegabilidade de embarcações de alguma envergadura, D. João V mandou alargar o braço do rio Trancão, o então chamado Esteiro da Princesa. Foi por este canal que vieram de Lisboa, desde a Ribeira das Naus, as estátuas e os sinos destinados à Real Obra de Mafra, tendo sido desembarcadas no porto fluvial de Santo Antão do Tojal, seguindo para o seu destino em carros de bois pela estrada real que ligava a povoação de Santo Antão do Tojal, a Fanhões, Montachique, e finalmente Mafra. O Rei D. João V e o seu irmão, o Infante D. Francisco, vieram a Santo Antão do Tojal, em dois barcos diferentes, no dia 5 de outubro de 1730 para a Cerimónia da Bênção dos Sinos, presidida pelo 1º Patriarca de Lisboa Tomás de Almeida. Em 1760, de acordo com as Memórias Paroquias, existiam 150 fogos, nos quais habitavam mil pessoas.