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Histórias Esquecidas de Manuel Milho XIII

PT

Isto não sou eu quem vos direi inventado de minha cabeça sobre a história desta rapariga a quem ama o Sete-sóis. Contou-me foi o Padre, que certa vez, no Brasil Colónia, enquanto caminhava em busca de encher de ar os pulmões maltratados, e de apanhar frutos para saciar-se ao pequeno-almoço, teria sido repentinamente atravessado por um fogueiro reluzente, que no meio de uma montanha curta enquanto caminhava na mata, adentrou sua garganta apossando-se uma quentura do corpo inteiro, e numa fração milimétrica de tempo, subitamente tudo se convertera a futuro.

Mas esta história sobre futuro não é uma história futurista, com coisas imaginativas e impressionantes ou seres alteres com olhos nas mãos e assim. É uma história diferente sobre futuro, esta que contava o Padre. Neste futuro onde esteve não havia coisas que costumam ter, parecia mais ter coisas do passado. E nesse futuro com aparência de passado é que teria o Padre encontrado Jaime, um senhor vestido com calças de linho marrom e camisola azul-claro com pequeninos botões translúcidos, tão translúcidos como o som vocal vaporoso que produzia ao falar:

– Está perdido, senhor Padre? Perguntou.

– Ainda não estou seguro disso. Teria respondido o Padre.

Jaime apertou as pálpebras. Fez um bico engraçado de desdém com os beiços como quem soubesse que a perdição nem era coisa que existia, e que encontrar-se nem era coisa que valha. Coçou a cabeça branca com a mão esquerda e caminhou desajeitado. O Padre disse-me que quase riu, mas achou melhor não. Ficou curioso e observou sua ida.

Jaime deixava o Padre à vontade, porque caminhava manso com as mãos seguradas atrás das costas, e com um pé a frente do outro calçados em seus chinelos de couro curtido com os dedões sujos à mostra pela estrada de barro que levara, até então, pensava o Padre, ao nada.

Ao nada porque por mais que olhasse, não podia ver coisa alguma além da estrada ao meio e da floresta nas laterais. O Padre olhava para os lados. Ansioso, tentava encontrar o atravessamento do fogueiro pra retornar ao lugar de onde veio, enquanto Jaime sorria sereno, caminhava manso e olhava pra adiante, onde acabava a estrada de barro batido vermelho que, em verdade, nunca acabava, mas acabaria em algum momento vindouro.

Então decidiu o Padre caminhar ao lado de Jaime. Pisou ligeiro, adiantou o passo e pôs-se à sua beira. Fê-lo porque não havia mais ninguém ali, porque parecia ele saber pra onde ia, ou porque talvez aquele homem o informasse como voltar à montanha do fogueiro onde pudesse ser novamente atravessado e aquecido por dentro e, assim, voltar ao seu próprio tempo.

Jaime teria parado. E então repentinamente surgiu um portão, um portão de madeira pintado em azul-escuro, arredondado no alto, com uma corrente velha e um cadeado indicando que nem todos podiam ali entrar. Ou talvez somente aqueles que estivessem dispostos a tirar a corrente, e abrir o cadeado. Isto não ficou claro para o Padre, mas ele não fez perguntas, inclusive porque não teria que ser ele a tirar a tal corrente, nem a romper o cadeado. Ficou em silêncio, esperou. Adentrou pelo portão acompanhando os passos suspensos do Jaime, que apesar de não ter explicado se ele poderia entrar, também não indicou que não poderia.

O abrir do portão revelou um corredor de pitangueiras. Saltavam aos olhos, uma preciosidade. Vocês sabem o que são pitangas? Deste lado não se sabe muitas coisas que do outro lado apenas são. Não sabia também eu, até que me explicasse o Padre ao pormenor. Não há nada assim nos campos de Santarém, nem de Mafra. Disse que pitangueiras são as árvores folhosas onde dão as pitangas, e pitangas são um fruto vermelho que não há igual cá. Podem até parecer amoras, mas são diferentes, e também não parecem cerejas, mas podem lembrar qualquer coisa delas no formato. Têm uns vergões que se assemelham a estrelas. O Padre encantou-se. Estavam cercados de árvores de estrelas vermelhas.

O Jaime parou ao lado de uma entre as tantas pitangueiras, apanhou para aí umas dez miudinhas, pousou umas na mão do Padre, que observou as estrelinhas macias, comeu-as e fez caretas. Jaime sorriu, ajeitou os óculos pequeno e redondo com armação brilhante de ouro ao rosto.

– Estrelas podem ser azedas. Reclamou o Padre.

– Há sempre umas mais doces que outras. Depois da primeira acostuma, como tudo na vida. Respondeu Jaime, acalmando o desconforto.

Saíram em frente margeando as árvores carregadas enquanto comiam as azedas estrelas vermelhas que por acaso já pareciam mais doces até avistarem um largo tapete róseo, uma casa ao fundo, branca com janelas azuis, cadeiras de vime em um terraço de chão em concreto batido, umas galinhas a ciscar, um pequenino largo com um enorme jambeiro.

E foi aí, por debaixo do jambeiro sentou-se Jaime em uma cadeira de baloiço, frente, trás, a olhar ao Padre com seus olhos de vidro. E então uma menina cruzou o pátio a correr como foguete, quase pôde ver seu rastro em faísca, saltou ao colo de Jaime, mordeu um jambo que tinha à mão, sorriram juntos um sorriso cúmplice enquanto eram observados pelo Padre. A menina de cabelos longos negros fitou-o nos olhos.

– Quer jambo, senhor Padre? Perguntou a pequena rapariga.

– Não, muito obrigada, menina. Só vim em busca do fogueiro que vai levar-me de volta ao meu tempo.

– Não seja tímido, senhor Padre. O senhor tem fome. Posso ver suas vontades, é a vontade dos homens que segura as estrelas.

O Padre arregalou os olhos, abriu uma das mãos onde ainda havia ainda três pitangas. Meteu-as na boca de uma só vez, mastigou-as e engoliu os pequeninos caroços. Com a outra mão, vagarosamente pegou o fruto da mão da menina. Enquanto isso, Jaime sorria debochado. Ele era o éter do desejo, mais leve que o ar. O malabar entre o ver o não ver, enquanto o vemos parado, é na verdade ele quem está a passar.

Agora imaginem vocês, rapazes, que estamos cá a trabalhar duro para terminar a obra do convento e aparece uma menina que nos enxerga do lado de dentro. Teriam vocês medo de uma menina que pode ver-te tudo do lado de dentro? O que veria a menina dentro de cada um de vocês?

O Padre teve medo, entretanto teve mais alegria. A pequena menina era, afinal, o seu fogueiro. Era ela quem iria aquecê-lo e atravessá-lo de volta ao seu tempo. E foi o que fez. Agarrou a mão do Padre e, então, atravessou-o.

O Padre apertou as pálpebras, mas quando tornou a abri-las ela ainda estava lá. Veio consigo para o agora e está consigo desde então. Nas seguinte sete luas após o atravessamento, a menina finalmente encontrou seus sete sóis, e reuniram juntos as vontades dos vivos. Precisava do Padre para abençoá-los, por isto pediu ao Éter para trazê-lo, e só aí então plantarem ambos na terra suas almas ainda e apesar das suas mortes.

ES

Ese no soy yo quien te esta cuenteando de i cabeza la historia de esa niña a quien Siete-soles ama. El cura me relató, una vez, en Brasil Colonial, en cuanto caminaba buscando llenar sus pulmones con aire fresco, y coger algunos frutos para saciarse al desayuno, fue atingido por un fuego brillante, que, en medio de una montaña baja, en cuanto caminaba en el bosque, se adentró de su garganta, siendo poseído por un calor de todo el cuerpo, y en una fracción milimétrica del tiempo, y, de repente, todo se convirtió en futuro.

Pero esta historia sobre future no es una historia futurista, con cosas imaginativas y impresionantes o seres otros con ojos en las manos y así. Es una historia diferente sobre futuro, esta que el cura cuenteaba. En ese futuro donde estaba no tenía las cosas que costumaba tener, parecía tener más cosas del pasado. Y en ese futuro similar al pasado el cura habría encontrado Jaime, un hombre vestido in pantalones de lino marrón y una blusa azul cielo con pequeñitos botones, tan translucidos, tan translucidos como el sonido vocal vaporoso que producía en cuanto hablando:   

– ¿Está perdido, sacerdote? Él preguntó. 

– No estoy Seguro de eso aún. El cura contestó.

Jaime cerró sus párpados. Hizo un pico de desdén divertido con sus habilidades como quién sabe que la perdición ni siquiera existía, y que la reunión ni siquiera era algo digno. Se rascó la cabeza blanca con la mano izquierda y tropezó descuidadamente hacia adelante. El cura me dijo que casi se rio; pero lo encontré mejor no para. Se dio curiosidad y miró su ida.

Jaime dejó al cura a gusto, porque paseaba suavemente con las manos sosteniéndose sobre su espalda, y un pie tras otro, en sus sandalias de cuero con los dedos sucios que se mostraban sobre el camino de arcilla que condujo, hasta ese día, El sacerdote pensó, a nada.

A nada porque con más frecuencia miraría, no podía ver nada más allá del camino en el centro y el bosque a los lados. El sacerdote miró a cada lado. Ansioso, trató de encontrar al otro lado del fuego para regresar al lugar de donde vino, mientras Jaime sonrió sereno y miró hacia el futuro, donde terminó el camino de arcilla roja que, que era verdad, nunca terminó, pero en algunos momentos por venir.

Entonces el cura decidió caminar al lado de Jaime. Pisó suavemente, aceleró su paso y llegó al lado del ministro. Lo logró porque no había nadie más por allí, porque parecía saber dónde estaba deambulando, o tal vez porque ese hombre le informaría sobre cómo volver a la montaña de fuego, donde podría ser cruzado nuevamente y sentirme cálido por dentro, y luego, para volver a su propio tiempo.

Jaime se habría detenido. Y luego, de repente, apareció una puerta, una puerta de madera pintada en azul oscuro, alrededor de la parte superior, con una cadena vieja y un casillero informando que no todos podrían entrar. O tal vez solo los dispuestos a quitar la cadena y abrir el casillero. Esto no estaba claro para el sacerdote, pero no hizo ninguna pregunta, inclusive porque no tendría que ser él para quitar esa cadena, ni romper el casillero. Se quedó en silencio, esperó. Entró en la puerta manteniendo el ritmo suspendido de los pasos de Jaime que, a pesar de no haber explicado si podía meter adentro, tampoco le dijo que no podía.

La apertura de la puerta reveló un corredor lleno de pitangueros. Capturaron el ojo, una preciosidad. ¿Sabes qué son pitangas? Por este lado, uno no es que no lo estén en el otro lado. Yo tampoco lo sabía, hasta que el sacerdote me explicó en detalle. No hay nada como eso en los campos de Santarém, no en los de Mafra. Dijo que las plantas de pitanga son los árboles frondosos donde crecen pitangas, y las pitangas son una fruta roja allí sin ni como no hay por aquí. Incluso pueden parecerse a bayas, pero son diferentes, e y tampoco parecen cerezas, pero pueden parecerse de alguna manera en forma. Tienen algunas ronchas que parecen estrellas. El sacerdote fue encantado por ellos. Estaban rodeados de árboles de estrellas rojas.

Jaime se detuvo al lado de una entre todas esas plantas de Pitanga, agarró unas diez pequeñas, dejó algunas en la mano del sacerdote, que las miró bien, las comió e hizo algunas caras. Jaime sonrió, ajustó sus gafas pequeñas y redondeadas con un marco dorado brillante, a su cara.

– Las estrellas pueden ser agrias. El sacerdote protestó.

– Algunos siempre serán más dulces que otros. Después del primero, uno se acostumbra, como todo lo demás en la vida. Jaime respondió apaciguando la incomodidad.

Se movieron hacia adelante a un lado de los árboles llenos de fruta mientras comían esas estrellas rojas agrias que cuando ya estaban más dulces hasta que vieron una rosa, una alfombra ancha, una casa a su lado, blanco con ventanas azules, sillas de mimbre en una terraza de concreto, algunas gallinas rascando el suelo, un pequeño patio con un jambo.

Y estaba allí, debajo del jambo, Jaime se sentó en una mecedora, hacia atrás y de regreso, mirando al cura con los ojos de vidrio. Entonces una niña cruzó el patio corriendo tan rápido como un cohete, casi podía ver su rastro en chispas, y la vio saltar al regazo de Jaime, mordiendo un jambo que había agarrado, y sonrieron una sonrisa cómplice mientras el sacerdote los observaba. La niña, con el pelo largo y oscuro, miró al sacerdote a los ojos.

– ¿Quiere un jambo, señor cura? La niña preguntó.

– No, gracias, muchas gracias, señorita. Acabo de venir por el fuego con que me va llevar de regreso a mi tiempo.

– No sea tímido, señor cura. Está hambriento. Puedo ver sus antojos, son los antojos de la humanidad los que sostienen a las estrellas.

El sacerdote abrió los ojos de par en par, abrió una de las manos donde todavía había tres pitangas. Los rompió de inmediato, los masticó y se tragó las pequeñas semillas. Con la otra mano, lentamente tomó la fruta de la mano de las niñas. Mientras que Jaime sonrió, burlándose de él. Era el Éter del deseo, más ligero que el aire. El malabarismo entre ver y no ver es, de hecho, el que está pasando.

Ahora, imaginen, muchachos, estamos trabajando duro aquí para terminar el edificio del convento y una niña viene del interior, mirándovos. ¿Tendrían miedo de una niña que pueda ver todo sobre sus lados interiores? ¿Qué vería la niña dentro de cada uno de ustedes?

El sacerdote tenía miedo y luego ganó más alegría. La niña era, al final, su fuego.

Ella sería la que lo calentaría y lo llevaría de regreso a su tiempo. Y así, ella lo hizo. Ella agarró la mano del sacerdote y luego la cruzó.

El cura cerró las pestañas con fuerza, pero cuando las abrió nuevamente, ella todavía estaba allí. Ella vino a “ahora” y ella se quedó con él desde entonces. En las siguientes siete lunas después del viaje, la niña finalmente encontró sus siete soles y se reunieron, como uno, los deseos de los vivos. Ella necesitaba que lo sacerdote ayudara a bendecirlos, y es por eso por lo que le pidió al Éter que lo trajera, y solo entonces ambos plantaron sus almas, aunque y a pesar de estar muertos.