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Igreja Matriz de
São Miguel de Alcainça

Mafra

 (…) Quis o acaso, agenciador de bons e maus sucessos, que se encontrassem as estátuas com os noviços no ligar da estrada que vem de Cheleiros com a que vem de Alcainça Pequena, e isso foi ocasião de grandes demonstrações de regozijo por parte da congregação, pelo afortunado augúrio. (…). 

Memorial do Convento, 1982, p. 222.

Igreja Matriz de São Miguel de Alcainça

O mais antigo documento relativo à igreja data de 1270 e é um instrumento de posse de D. João Perez, bailio de Sintra e membro da Ordem do Templo. A primeira grande renovação desse primitivo templo ocorreu a partir de 1363, por iniciativa do então prior de Cheleiros, Vicente Anes Fróis. No seu testamento, este clérigo mencionou a intenção de ser sepultado na igreja de Alcainça, na capela que seu pai havia construído, e que ainda hoje existe. Alvo de várias intervenções arquitetónicas, nos séculos XIV, XVII e XIX, o atual templo resultou da expansão no sentido sul, em que a capela-mor alberga um grande retábulo de talha, e ao corpo prolongado para poente e dotado de teto de caixotões foi associada uma nova fachada principal e, provavelmente, a torre sineira. As suas paredes são inteiramente azulejadas e o adro fechado com muro. O portal foi classificado Imóvel de Interesse Público (1926).

Alcainça Grande
e Alcainça Pequena

Alcainça é um topónimo de origem árabe que significa mosteiro. Por essa razão, pensa-se que, antes de este território ter passado para a coroa portuguesa, aqui tenha existido um mosteiro cristão tolerado pelo poder islâmico dominante. Desse passado moçárabe não chegou até nós qualquer vestígio monumental, apenas um pequeno fragmento de pilastra, de qualidade artística mediana, mas revelador da importância medieval da povoação.

O facto de terem existido duas Alcainças (a Pequena e a Grande, ainda confirmadas toponimicamente nos dias de hoje) pressupõe que, em algum momento da sua história, a localidade tenha tido duas comunidades distintas. Em 1270, a Ordem do Templo possuía dois casais em Alcainça Pequena, assumindo-se que a povoação principal estivesse concentrada em Alcainça Grande, onde se situava a igreja matriz e o principal núcleo habitacional.

São Miguel de Alcainça foi desanexado do Concelho de Sintra em outubro de 1855, integrando o Concelho de Mafra como freguesia. Em 1923 perde o estatuto de freguesia e passa a lugar da freguesia da Malveira, tendo sido desanexada da mesma em 1985, quando integra o Concelho de Mafra, recuperando a posição de freguesia.

Capela do Espírito Santo

Construída no início do século XVI, tem a particularidade de possuir um dos mais relevantes portais manuelinos do Concelho de Mafra, alusivo às três Idades do Homem e ao advento do Espírito Santo. Por essa razão, foi classificado Imóvel de Interesse Público, em 1943 e 2002. Fruto dos melhoramentos recebidos na primeira metade do século XVIII, após o Terramoto de 1755 chegou a servir, temporariamente, de Igreja Matriz. A sua principal função era a de assistência de enfermos, pobres e viajantes, sendo regra comum a associação de hospital e albergaria.